G O R D A

G-O-R-D-A. Cinco letrinhas aleatórias que quando colocadas nessa ordem formam a palavra que até pouco tempo atrás me aterrorizava. A palavra que minha família me ensinou desde criança que era uma coisa ruim e que, consequentemente, me transformava em uma coisa ruim. A palavra que quando dirigida a mim em alto e bom som no meio da rua (em tom de humilhação) me fazia chorar compulsivamente. A palavra que não me permitia sair na rua de shorts e blusas cavadas ou justas sem ter um ataque de pânico - afinal, minhas pernas são grossas demais, meus braços são grandes demais e a barriga então, nem se fala! - com a sensação de que todos me apunhalavam com aqueles olhos-de-censura… Apenas por eu ser quem sou.
Quando arranquei minha roupa despertei essa FÊMEA existente, a LOBA, amei o meu corpo como ele é.
Arranquei as roupas e fiquei NUA DE MIM MESMA !
Meus peitos, minha bunda, minhas estrias são as marcas daquilo que de fato EU SOU, Uma MULHER de verdade.
Deixei de me reduzir a um simples ponteiro de balança, e percebi que meu carater ou minhas qualidades não se medem pela quantidade de celulite na minha bunda.
Deixei de ser a louca que conta calorias e bota tudo na conta do 'não posso', parei de me maltratar me achando feia, só pq não conseguiu ficar igual a moça da TV.
G-O-R-D-A. Hoje são cinco letrinhas que descrevem uma das minhas muitas individualidades. E por ser individualidade não faz sentido que seja comparada a nada nem a ninguém!

Nietzsche e as tartarugas


Elas são quelônios de vida mansa e aparência engraçada, mas, não importa a sua classificação ou nomenclatura, todo mundo chama simplesmente de tartaruga.
Comigo a coisa é parecida: não importam as minhas qualidades, em todo lugar que vou, todo mundo só enxerga a garota estranha!
Quando paro pra pensar, percebo que (eu e as tartarugas) temos muito mais em comum do que o obvio sugere: além de sermos lerdas e pesadas, temos  um humor peculiar, apesar de vivermos em bando, nos viramos muito bem sozinhas e gostamos de filosofia.
“Ninguém, exceto tu, só tu pode construir em teu lugar as pontes necessárias para atravessar o rio da vida”, quase ninguém sabe, mas, Nietzsche, o filósofo, também escreveu para as tartarugas, pois, quem, além delas, para desbravar os tortuosos caminhos da praia e chegar segura até o mar?
As tartarugas também são muito mais espertas que os seres humanos: enquanto eu sofro de mau humor matinal, ela (a Gioconda, minha tartaruga de personalidade forte) nem se dá ao trabalho de acordar para aturar esse mundo cruel, que faz questão de destratá-la sempre, chamando-a de cagádo, errando propositalmente seu nome e fazendo graça.
Mas, nós, as tartarugas, continuamos impassíveis e não nos importamos.
Poderia fazer uma lista enorme de qualidades tartarugais, mas, o importante mesmo a se saber é que ninguém deve levar em consideração a aparência de uma tartaruga em detrimento de suas capacidades.
Porque nós somos assim: duronas por fora, mas, molinhas por dentro!