Faz alguns dias em que me sinto angustiada.
Uma inquietação na alma, que abraço nenhum dava jeito.
Na realidade, dessa vez, eu nem queria abraço nenhum, so queria entender o que estava acontecendo comigo.
Então, eu chorei. Chorei vendo as imagens da barbarie ocorrida em Pinheirinho.
E entendi que a minha angustia não é so minha. Não deve ser só minha. Tem que ser compartilhada.
Entendo eu, que não ha formas de organizar a indignação e que ela deve exitir por tudo.
O que não consigo mesmo entender, é como a imagem de um cachorro espancado consegue ser mais importante que a de uma familia que acabou de perder tudo!
Não, não apoio mal trato à animais. É cruel. Esse tipo de julgamento nem deveria existir, pq deveriamos ser educados a respeitar todas as formas de vida.
Mas, me desculpem: sou gente.
Convivo com gente, trabalho com gente, vejo gente crescendo a todo instante.
Então, como ficar impassivel diante de tudo o que esta acontencendo?
Como não se revoltar (sim, revoltar, pq so se sensibilizar não adianta) com um governo que coloca o interesse de 1 homem, acima de uma população de mais de 7 mil pessoas?
Como não se revoltar com a noticia de que pessoas estão morrendo enquanto lutam por um direito que lhe é basico e garantido por lei?
Como não se revoltar com a ação truculenta de uma policia militar perdida, despreparada e, exatamente por isso, letal?
Como não se revoltar com o argumento de q 'a lei esta sendo cumprida'?
Como não se revoltar com essa grande midia que manipula, esconde e distorce os fatos?
Como não se revoltar com essa gente que prefere fechar os olhos e brincar pra sempre de 'beija ou passa' ?
Mas, mantenho minha fé em toda essa gente.
Porque se não acreditarmos que existe, sim, bondade no ser humano, o que vai restar pra nós?
Os fatos estão ai. E não precisa ir muito longe pra enxergar.
Pinheirinho nao esta sozinho.
Mas, quantos ainda vão ser necessarios pra que, efetivamente, comecemos a fazer alguma coisa?
Não se preocupe em fazer o bem sozinho. Não é porque somos poucos, que devemos deixar de contribuir.
Não posso terminar esse texto de outra forma, senão com Bertolt Brecht:
Nós vos pedimos com insistência:
Nunca digam - Isso é natural -
diante dos acontecimentos de cada dia.
Numa época em que reina a confusão,
em que escorre o sangue,
em que se ordena a desordem,
em que o arbítrio tem força de lei,
em que a humanidade se desumaniza....
Não digam nunca - Isso é natural! -
Para que nada passe a ser imutável.
Eu peço com insistência
Não diga nunca - Isso é natural -
Sob o familiar,
Descubra o insólito,
Sob o cotidiano, desvele o inexplicável.
Que tudo o que é considerado habitual
Provoque inquietação,
Na regra, descubra o abuso,
E sempre que o abuso for encontrado,
Encontre o remédio.
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